A rebelião aconteceu no complexo da Penitenciária do Litoral de Guayaquil, no sudoeste do país
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A disputa entre facções criminosas no Equador ganhou nesta semana seu capítulo mais sangrento até aqui neste ano. Um motim que começou na terça-feira (28) em um presídio em Guayaquil deixou ao menos 100 mortos e dezenas de pessoas feridas, segundo as autoridades locais confirmaram nesta quarta (29).
A rebelião aconteceu no complexo da Penitenciária do Litoral de Guayaquil, no sudoeste do país. De acordo com o Ministério Público do Equador, os confrontos se dão entre membros de diferentes cartéis na disputa pelo controle do presídio e houve registro de tiroteios.
Os detentos também reagiram à iniciativa do governo de transferir os chefes das organizações criminosas para outras penitenciárias na região central do país, informou o órgão. Além dos mortos, o Snai, órgão responsável pelo sistema carcerário do país, conta também 52 pessoas feridas.
Alguns dos mortos foram decapitados, em cenas que lembram as registradas nas rebeliões em presídios do Norte e do Nordeste do Brasil em janeiro de 2017. Na ocasião, as disputas de facções criminosas pelo controle das rotas de tráfico no país deixaram centenas de mortos em penitenciárias.
Na maior cidade do Equador, a polícia entrou na terça-feira com mais de 400 agentes no presídio e encontrou nas celas um fuzil, uma pistola, facas e machados usados na rebelião, além de celulares e drogas, de acordo com a promotoria.
Segundo o chefe da polícia, Fausto Buenaño, os criminosos também portavam granadas. Ele afirmou à imprensa local que os detentos cavaram um buraco para acessar outra ala do presídio, onde atacaram membros de gangues rivais. A polícia conseguiu resgatar seis cozinheiros que ficaram presos durante o motim.
Mesmo depois que a polícia retomou o controle do local, novos tiroteios e explosões foram registradas no presídio na noite de terça. "Estamos entrando nos pavilhões do conflito e descobrindo mais cadáveres", disse o diretor do Snai, Bolívar Garzón, em entrevista a uma rádio local nesta quarta-feira.
"É realmente uma tragédia, algo tremendo o que está acontecendo, essa luta entre grupos criminosos organizados que na busca pelo poder interno chegam a esses níveis, a situação é realmente terrível."
Gangues ligadas a dois dos maiores cartéis de tráfico de drogas mexicanos, o Sinaloa e o CJNG (Jalisco Nueva Generación), protagonizam a guerra em curso no Equador, segundo a polícia.
A facção equatoriana Los Choneros já tem ligações com o Sinaloa, afirmam as autoridades, mas o cartel CJNG tem feito alianças com grupos rivais para tomar o controle das rotas de tráfico. Os portos do país, assim como os do Brasil, estão na rota de organizações internacionais para escoar a produção de drogas ilegais para outros continentes.
O presidente Guillermo Lasso decretou estado de exceção em todo o sistema carcerário do país. "Em Guayaquil, vou presidir o comitê de segurança para coordenar as ações necessárias para que se controle a emergência, garantindo os direitos humanos de todos os presos", escreveu em rede social. De centro-direita, Lasso assumiu a Presidência em maio.
O governo reforçou a guarda militar do lado de fora do complexo penitenciário, onde dezenas de pessoas se aglomeram em busca de notícias de familiares presos.
A revolta desta semana agrava a crise carcerária no país, que já registra cadeias superlotadas e com motins constantes. Os mais graves deles neste ano haviam ocorrido em 23 de fevereiro, quando rebeliões começaram simultaneamente em quatro presídios e acabaram com um saldo de 79 mortos, alguns deles também decapitados.
Meses depois, em 21 de julho, outras rebeliões coordenadas em duas penitenciárias deixaram 22 mortos.
As tensões voltaram a escalar no último dia 13, quando um drone lançou explosivos no mesmo complexo penitenciário de Guayaquil que é o estopim da crise atual –não houve vítimas na ocasião.
A violência desta semana eleva agora o conflito a outro nível, já que o número de mortos se aproxima dos 103 registrados ao longo de todo o ano passado, segundo números da Defensoria Pública. Neste ano, as rebeliões no país já deixaram mais de 200 mortos, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que condenou a violência nos presídios.
"Vale lembrar que os Estados têm o dever jurídico de adotar medidas que garantam o direito à vida, à integridade pessoal e à segurança das pessoas sob sua custódia", disse a entidade. Em nota, o órgão pediu que o governo do Equador investigue o massacre e tome ações para melhorar a segurança e prevenir as ações de grupos criminosos dentro dos presídios.
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